Entrei no hospital com uma sensação de familiaridade distante.
Estranho.
Não sei ao certo se aquela enfermeira que sempre passava no corredor e a gente dava um tchauzinho é ela mesma. Tem uma máscara e dois anos e meio no meio de nós. Será que ela pintou o cabelo? Será que minha vista tá mais embaçada por causa do uso excessivo de computadores e smartphones?
Pode ser.
Ando diferente. Estou mais delicada, tenho mais delicadezas pra lidar também no meu corpo. Exercito a presença pro corpo traçar o gesto. Dilato de dentro pra fora num movimento gentil comigo mesma. Respeito linhas imaginárias, inclusive as minhas. Encontro olhares cansados, duros, gentis. Como será que tá o meu?
Revezo com meu companheiro as entradas nos quartos e combinamos: “vamos com calma, vamos suave, vamos no tempo que o tempo dá”. Percebo mais do que nunca a exigência deste trabalho, nas sustentações e solturas em duas horas e meia de palhaça dentro de um hospital.
Volto pro hospital pisando leve.
Seu José, na sua doçura bonita, cria um espaço gentil. O palhaço Tropo, pendurado na porta, cria um espaço de riso frouxo e alto. O olhar de “agora não” do paciente, cria um espaço de respeito. Vários espaços dentro do espaço.
Voltamos pro hospital.
Siriema