Chegamos a esse ponto. Ponto em que me imagino diariamente em outra realidade, você não?
…Nessa realidade paralela (ou não) eu tenho 5kg a menos, alguns gominhos na barriga; acordo às 7 horas da manhã disposta; faço meus exercícios físicos diários; leio uma boa parte de um livro deitada em uma rede onde posso ver o mar tomando meu café; imagino um mundo melhor com quem amo e combinamos uma volta de bicicleta ao fim da tarde; minha cachorra me traz a bolinha e não pede o pão de queijo que tenho nas mãos e também não encontro parte do meu tênis comido no quintal; quintal esse que comporta uma pequena horta onde produzo os legumes, verduras e temperos que mais consumo; me atualizo sobre as notícias, algumas boas, outras não muito boas, mas nenhuma delas coloca a democracia ou o direito de qualquer ser humano em xeque; Me preparo para sair e fazer meu trabalho, uma colaboração para o mundo, grata por fazer parte dele…
Eu não sei se tenho visto filmes demais, mas eu tenho uma tendência a acreditar que existem outras realidades em que uma cópia de mim vive outras versões da minha vida, da nossa vida. Realidades que surgem a cada mudança de decisão de cada ser humano existente na Terra. Sim, de cada ser humano! A realidade que descrevi acima não seria possível se alguém que nem conheço tivesse consumido um animal exótico e tivesse compartilhado um vírus estranho para todo o planeta, ou se eu não tivesse dedicado um bom tempo da minha vida em educar realmente a minha cachorrinha, ou se eu não tivesse decidido mudar para praia no primeiro inverno da minha vida adulta e, ao invés disso, tivesse resolvido passar todos os anos repetindo como seria bom morar em um lugar mais quente. Mas a verdade é que essas realidades existem, pelo menos na minha imaginação. E aqui dentro da minha mente elas não parecem tão impossíveis nem são tão diferentes da realidade em que me encontro agora. Mas a grande verdade é que ela não depende só de mim, ou da minha decisão, mas de cada decisão de cada ser existente…
Hoje tomo meu café já às 10 da manhã, a pantufa não dá conta do frio que vem do chão, minha cachorrinha insiste em pedir parte do meu pão de queijo, evito ver as notícias há alguns dias, combino um vinho ao fim da tarde com quem amo e continuamos imaginando um mundo melhor…
Lucri Reggiani
16/06/2020
Visita Paralela
Chegamos… Estacionei minha nave interdimensional em cima de uma horta no quintal dos fundos de uma casa à beira mar. O cheiro de café com pão de queijo quentinho se espalhava no ar, as donas da casa terminavam uma série de exercícios e se preparavam para o desjejum, a disposição era contagiante. Me convidaram para tomar café. Não hesitei, pendurei meu casaco laranja e felpudo do lado da porta da cozinha, a cachorrinha o cheirava estranhamente alegre. As donas da casa, elogiando minhas meias verde-limão, gentilmente separaram uma cadeira para eu sentar na varanda. Me senti estranhamente em casa. Comemos vendo o mar. Com aquele arzinho matinal batendo no rosto, contei das loucuras do mundo da onde eu vinha, da falta de cuidado que estávamos tendo com o meio em que vivemos e com nossos iguais… Elas contaram sobre aquele mundo, dos erros e acertos de lá… Ali, compartilhando de mundos tão distintos e estranhamente familiares, rimos, nos emocionamos, nos surpreendemos e não vimos a hora passar. Ali o tempo era outro! Quando já não havia mais café, me lembrei que deveria tomar o rumo de casa, elas me acompanharam até a nave. – Desculpa pela horta! – Gritei da janela, enquanto ligava o motor!… – Não se preocupe, já estava na hora de arar a terra! Obrigada pela visita! – Obrigada pelo carinho!… Me entregando a receita do pão de queijo e alguns recém tirados do forno para a viagem, me desejaram sorte… Cheguei de volta com a alma alimentada, com um tanto mais de esperança no coração e com a forte sensação de que conhecia aquelas duas de algum lugar!
P. Bisnaga
16/06/2020
*Pra ilustrar as visitas paralelas, Siriema, Tropo, Lourdes e Fúcsia se juntaram para criar essa história em quadrinho!”