Ei… Você já teve a sensação de que a geografia, a matéria, se equivoca às vezes? De que por algum lapso de atenção a Lua perde o foco em seu giro em torno do planeta Terra e começa a seguir você? Que por alguma razão maluca o navio se distrai e… pluft! Cai depois do horizonte? Pois isso aconteceu comigo um dia desses: um Rio atravessou o oceano e me encontrou no Hospital!!!
Hã?
Pois é verdade! Não sei se pelo caminho da Itália até aqui pegou uma correnteza fria cheia de pingüins ou encontrou tubarões e tartarugas nos corais profundos, se pulou por navios piratas e seus tesouros! Então quem sabe se foi engolido por uma baleia azul cantora!!! Ou se simplesmente pegou um avião até aqui.
Que é isso??? Um Rio pegando avião?
Ah! Perdão! O Rio que estou falando tem apenas 67% do seu corpo formado de água, 30% devem ser de histórias, memórias, lembranças, alegrias e todas essas coisas que formam o ser humano… É! O Rio que estou falando é um ser humano de verdade… e que Ser Humano! Gente fina, que lembra de suas histórias na Calábria (a ponta da bota no mapa da Itália) como se fosse alí do outro lado da janela do hospital!
Um momento nesse papo… Pois, eu nunca faltei a uma aula de biologia e tenho a certeza de que os seres humanos são formados por 70% de água… e você disse aÍ que esse Rio só tem 67%… então, onde estão os 3%??
Eita! Já estava me esquecendo dos 3% de água, lágrimas de felicidade na verdade, que deixamos pelo corredor enquanto formamos uma dupla de tenores… ou sopranos… ou sei lá… Enquanto o Sr. Rio cantava óperas magníficas (ele era um autêntico cantor de ópera), eu tentava acompanhar cantando e tocando minha sanfoninha em acordes inventados… logo iam parando enfermeiras, médicos e funcionários em geral, e quando vi estávamos todos alí! Chorando e perdendo alguns porcentos de nossas totalidades.
Olha… essa conversa está muito louca… eu só rio dessa sua história!
Eu também ri dessa história! Porque analisando bem: as nossas lágrimas de alegria, de ter vivido aquele momento tão sincero, vão evaporar e logo vão chover, assim, nossas lágrimas irão se juntar às correntezas de um fino rio que vai ganhar força e para ganhar a imensidão do mar… até quem sabe molhar a ponta da bota de um italianinho lá na Calábria que afina sua voz com o canto das gaivotas para uma linda ópera… e olha… apesar de nossa sensação… a geografia, a matéria, não se equivoca!
E quantas lágrimas precisa para formar um rio?
Ah essa é outra matéria.
– Palhaço Abelardo Biloba
(Paulo Henrique Carneiro)