O objeto era pequeno, retangular e com um de seus lados coberto por um fina película de vidro. O restante do material parecia ser uma mistura entre plástico e metal, relativamente resistente.
Percebeu que a camada de vidro estava completamente trincada e que algumas partes haviam se soltado quando removeu a poeira que o encobria.
Virou-o em suas mãos…
Curiosa aquela maçãzinha.
Lembrou-se que faziam anos que não comia nenhuma fruta.
No canto superior esquerdo, uma bolinha preta. Na borda inferior, havia dois buracos principais, sendo um deles retangular e estreito, e o outro perfeitamente circular. Numa das bordas laterais, pequenas elevações, uma espécie de botãozinho com os símbolos de mais e menos.
Gostava de estar só e desconectado para poder imaginar livremente a função das coisas. Para que serviriam os botões… regular a temperatura corporal, talvez?
Saiu caminhando dos escombros e no caminho de volta para o forte ativou seu wi-fi.
Assim que o fez, o sistema de inteligência artificial implantado em suas córneas detectou a memória do objeto encontrado e disponibilizou em sua tela mental todas as informações principais: chamava-se smarthphone e era utilizado para comunicação. A bolinha preta correspondia a uma câmera, os buracos eram para carregamento de energia e para fones de ouvido. A IA exibiu uma cena de pessoas comunicando-se com o aparelho em suas mãos, olhando para a imagem uma das outras na tela do objeto.
Achou estranho ao perceber que os olhos não se encontravam. A câmera frontal ficava na parte superior do aparelho e a imagem logo abaixo, e por isso não havia como olhar nos olhos da pessoa enquanto se conversava.
Já os botõezinhos laterais, estes serviam para aumentar ou abaixar o volume. Manualmente.
Rudimentar, pensou.
Com seu comando-pensamento, chamou por sua filha. Sabia que sua pequena antropóloga gostaria desta descoberta. Antes de ser atendido, programou a caminhada para o modo piloto-automático, assim seu foco seria todo dela.
Quando a filha apareceu em sua tela mental, projetada por dentro da córnea, foi olhando bem dentro dos seus olhos que lhe contou sobre as explorações do dia.
Yara Rossatto (Palhaça Solara)