Panos, roupas, tecidos que me rodeiam. É muita roupa. De cima em baixo. Por todos os lados. Transbordando os cestos. No chão, no guarda roupa aberto, na arara, em cima do sofá, da cadeira, da cômoda, da mesa, da cama, no banheiro, dentro do box, dentro da máquina de lavar, nas sacolas pra doar. As roupas parecem não sair de casa! Ficam andando, circulando, se arrastando, se pendurando. Vão até o varal, na grama do quintal, mas não saem de casa. Entram dentro do carro, do porta malas, mas não saem. Roupas que parecem andar sozinhas, parecem ter personalidade própria. Algumas, assim que saem limpinhas da máquina, já logo estão rolando no chão, estão deitadas na grama, na terra e acabam se sujando de novo, tendo que voltar para a máquina antes mesmo de irem para o guarda roupas.
Roupas secas e molhadas. Tem até roupa mofada. Esquecida. Nos lembrando o tempo todo. Nos impedindo de esquecer. Nossa desorganização. Nossa bagunça. Nos lembrando da necessidade de mudar. De se fazer presente. De dar de presente. De que precisamos doar, porque tem gente que não tem e está precisando. De agradecer.
Roupas pra se vestir. Roupas pra trocar. Roupas pra lavar. Roupas pra tirar. Roupas pra estender. Roupas pra secar. Roupas pra recolher. Roupas pra dobrar. Roupas pra guardar. Roupas pra catar. Roupas pra sair. Roupas pra tropeçar. Roupas pra escorregar.
Roupas que servem, roupas que não servem mais. Roupas rasgadas, roupas manchadas, roupas com cheiro de não secas. Roupas cheirosas. Roupas limpas. Roupas dobradas. Roupas guardadas.
Roupas de cama. Roupas de banho. Roupas de chão. Roupas de prato. Roupas de nenê. Roupas dele. Roupas dela. Roupas minhas.
Roupas sob minha responsabilidade.
Roupas sobre as responsabilidades dela.
Roupas por sobre as nossas responsabilidades.
Roupas por sobre o que é mais importante.
Roupas por sobre o que é essencial.
Roupas sobre-tudo.
E sobretudo nossa relação.
Hique.
25/06/2021.