Um ambiente novo traz várias impressões e, nesse caso, muitas expressões. Mesmo sem estar de palhaça você entra no hospital de uma maneira diferente. Não sabe muito bem como “estar”, então fica no meio de dois estados: de palhaço ou de um funcionário do hospital que não é palhaço! Mas muita coisa acontece dentro de você. Algumas escapam e outras, muitas outras, ficam guardadas: aquela música que de repente surgiu na sua cabeça, a piada com a senha chamada na recepção, a sensação de que você pode brincar com tudo e também dizer coisas verdadeiras sem ser levado a mal. Quem sabe com um nariz tudo isso pulse livremente.
O hospital é um local de cuidado, mas a espontaneidade e descontração de alguns funcionários dão leveza. Ao se depararem com a Trupe, pareciam receber uma visita em casa, ou encontrando pelas ruas, dançando no elevador, passeando em um museu, cultivando flores, rindo…
Essa sensação também é levada para os pacientes. Ver as pessoas em suas camas, crianças com as roupas de hospital, curativos, e ver ao seu lado dois palhaços falando de coisas “absurdas” era como se a situação delas fosse modificada, como se não importassem essas condições e nem as coisas absurdas. Era um encontro em que todos começavam do zero, desnudos, abertos para uma relação nova, um ambiente novo, tornando-se novas pessoas. Eu via a condição dos pacientes e via ser construída outra coisa: um teatro no meio da enfermaria, com cortinas humanas e um diretor muito sério, uma prova de matemática sendo aplicada “isso é zero ou a letra ‘o’? Porque se for a letra, não é prova de matemática, é de português! Então vamos começar de novo”.
Minha missão agora é observar, entender como as coisas se dão do ângulo de um visitante que deve estar atento a sempre lavar as mãos ao entrar e sair de uma enfermaria, ver se tem alguma indicação de isolamento nas portas, conhecer enfermeiras, médicos, recepcionistas, funcionários da limpeza. E observar dois seres que geram olhares curiosíssimos, em que a gratidão por terem passado e feito gestos engraçados, cantado ou apenas piscado, torna-se visível a olho nu.
Mariana Lenartovicz Dra. Iva Lourença estava em fase de treinamento quando escreveu esse texto. Agora, já atuando como palhaça, garante que continua atenta à lavagem das mãos. Ufa!