Perdoa-me?
Perdão, esqueci de me apresentar. É que lembrar não é meu forte. Aqui é o palhaço Bonito. Desculpa se soa metido, mas Bonito não é nome: Bonito é apelido!
Sinto muito que não estou aí contigo. E você está aí, eu sei que você está aí. Queria estar também. Desculpa, desculpinha, desculpido. É que a pandemia saiu do controle, né? Já queria ter voltado, mas seria irresponsável. Aí todo mundo da Trupe toda está em casa. Quando era criança sempre me diziam que eu não sou todo mundo. Mas nesse caso também estou em casa, como todo mundo.
Se estivesse aí acho que a gente podia brincar de alguma coisa. Como daquela vez que imitei um velho e você me fez várias perguntas. “Em 1958, no meu quarto casamento, passei em Pato Branco. Mas naquela época se chamava Pato Amarelo, ficou branco com a idade”, “Eu que ensinei mágica pro Houdini. Nos conhecemos no batizado do meu segundo neto, em 1926”. Ou então brincar de fazer caretas, de falar com a porta, de bolhas de sabão, de imitar vozes, de soltar pum com a boca, de ninar o chapéu, de competir quem é mais chique, de dançar miúdo.
Desculpa jogar essas lembranças todas, acho que estou nos… nos… nos tal… nos tal do… nos tal go… nostrágico? Nostálgico! Estou nostálgico. Queria era estar contigo nos’hospitalgico, mas estou nostálgico. Paciência.
Por favor, me permita dizer que também não estou parado, apesar de estar parado. Quero dizer que não estou sem fazer nada, apesar de não estar aí! A Trupe toda está fazendo o possível para tornar o longe perto. Esta carta, por exemplo. Ela vai pra um blog com vários outros textos (se você está lendo é porque já foi). Aí tem também podcast, vídeos, fotos, nossos rolês todos! E vídeo chamadas, pois nós palhaças e palhaços não precisamos de desculpas para estar perto.
Por último, mas não menos importante, quero pedir com todo carinho que você possa tomar meu lugar por alguns momentos. Nem precisa ser todo dia, só quando quiser levantar o astral. Por favor, por favorzinho? É tudo muito simples: você só precisa brincar. Não é como se eu estivesse te pedindo para arquitetar um prédio ou escrever uma tragédia. Te garanto: vai ser mais fácil que tocar violino ou assar um pão, muito embora essas coisas possam ser feitas brincando. Mais fácil que andar pra frente. Mais fácil que tocar campainha. Mais fácil que dormir com sono. Mais fácil que mastigar sopa.
Por último, último. Dessa vez último mesmo. É só brincar, lembra de não esquecer.
Sempre seu,
Palhaço Bonito.
PS.: Por último (agora é sério): Não esquece de lembrar!
PS.2: Desculpa qualquer coisa.
PS.3: Veja o primeiro PS.