Este texto não era pra ser sobre isso. Um vento bateu e o pensamento voou conectando-se a outro e outro até chegarmos aqui: trabalho em grupo. Duvide-o-dó que você vai dizer que AMA trabalhar em grupo. Talvez. Eu às vezes digo (já disse mais), mas confesso que tenho substituído palavras de euforia por outras que inspiram pés no chão. Tenho propriedade no assunto: participo ao menos de 4 grupos artísticos com mais de 10 pessoas. Sinto sempre um ar de heroísmo com essa afirmação e, no fundo nem tão fundo assim, até um orgulhinho. Independente de qual seja a nossa vontade tenho pensando que o trabalho em grupo é inevitável. Está sendo nesse momento agora enquanto escrevo e acho que isso nunca esteve tão evidente. Usar a máscara é um exemplo. Desde coisonas assim tão cruciais, até coisinhas não menos importantes como organizar uma festa surpresa para quem queremos bem. Aliás, essa é uma prática institucionalizada aqui na Trupe. Sempre que alguém faz aniversário compramos bolo e bolamos um jeito inusitado de cantar parabéns. A aniversariante geralmente sabe que aqueles olhares e risinhos durante a reunião são os sinais de que a qualquer momento alguém sairá com um bolo da cozinha (atualmente pelo Zoom), cantando, vestindo uma peruca esquisita ou interpretando uma cena melodramática. Antes desse momento, fingimos que é um dia super comum. A brincadeira é essa: todo mundo no fundo sabe, mas finge não saber. É como um pacto silencioso que as crianças fazem enquanto brincam. Trabalhar em grupo tem um tanto desse pacto de aceitar a brincadeira e entrar no jogo. Talvez seja por isso tão difícil. Às vezes a gente não quer brincar ou a nossa idéia não foi a escolhida. Tem dias em que é tão desgastante termos de chegar a uma decisão quando há divergentes pontos de vista! E nessas discordâncias e concordâncias, aperta daqui e solta dali, vai se tecendo algo criado por nós. Aprendendo a ser o nós que não obriga, sufoca, impõe, mesmo que ainda recorrendo a isso. Sinto que só teremos futuro possível feito de nós, no entendimento do espaço de cada um. Na diferença de nós que nos aproxima. Do trânsito necessário do eu para o nós e do nós para o eu. Às vezes retirar-se do nós, quando possível, é sinal de respeito e consideração. Quem sabe um dia esse eu volta mais entendido desse papel do eu em nós. Agora parece que falei “doeu em nós”. E está mesmo.
Escrevo este texto pensando em um dos meus queridos nós composto de Marianas, Fernandas, Yaras, Lopses, Volneis, Lucris, Larissas, Camilas, Mateuses, Vickys, Hiques, Diogos, Paulos, Mancusos e outras e outros e outres que aqui vão se juntando, mesclando, formando outros nós.Saber-se nós é artesanal.
Larissa Lima / Siriema