A categoria dos palhaços desorganizados reclama ao público em geral: não usem minha imagem, meu nome ou minha profissão sem permissão! Não me confundam com o que há de pior!
Sim, os palhaços são orgulhosos e clamam por devido respeito! Mas continuam a ser confundidos….
Os palhaços aparecem em temporada de eleição. Não é difícil escutar alguém aludir ao congresso nacional como antro de palhaçadas, ou, apelidar o cidadão comum de palhaço quando surrupiado por políticos corruptos. Indignado, o cidadão comum veste seu nariz de plástico vermelho e vai as ruas.
Os palhaços estão ali também, na televisão e no show business. Quem passou parte da infância assistindo televisão nos anos oitenta, certamente esteve na companhia do palhaço Bozzo, que ao estilo americano de franquias, apresentava-se em um figurino de cores fortes e maquiagem carregada, exatamente como a nova franquia tupiniquim dos Patati Patatá, animando a criançada e espalhando sua marca pelos quatro cantos do imaginário coletivo!
Do show business sai também o personagem Pennywise, do filme o “palhaço assassino”, que apavora a imaginação popular.
Há também o palhaço de festa infantil, o que vende balas no sinaleiro e o que divulga restaurante “bifê” a cinco reais no centro da cidade. Um trabalhador que se submete a uma caracterização mais ou menos ridícula em troca de algum dinheiro ganhado honestamente.
Também o palhaço voluntário, das boas ações, bom por excelência. Ele vai a eventos de caridade social e hospitais para oferecer felicidade a quem não tem. Um anjo, um doce, meigo como um ursinho (de pelúcia). Esse palhaço, nem engraçado chega a ser, de tão anjo.
Historicamente o palhaço porta a mácula do artista: de que arte não é profissão, é hobbie, é vida boêmia, é malandragem. O preconceito apoiou-se na itinerância das companhias circenses e, assim como aos ciganos e outros artistas viajantes, foram tachados de potenciais ladrões, sequestradores de crianças. (Dai o sentido figurado da palavra saltimbanco: farsante, charlatão).
Mas há o palhaço graduado, formado em escolas de teatro ou circo, que estudou a “commédia dell’arte”, o teatro físico, a máscara neutra de “Jaques Lecoq”, técnicas de improvisação, dramaturgia e assim por diante. Ele compõe e cria obras de arte. Um artista com “A” maiúsculo, que deve ser louvado, enaltecido, reconhecido!
Sou muitas vezes catalogado em uma das classes acima descritas. Algumas vezes pelos outros, outras por mim mesmo. Já fui xingado de palhaço; já me senti um palhaço como eleitor; já houve ocasiões em que disse trabalhar como palhaço, querendo que entendessem que era palhaço graduado, mas perguntavam-me se animava festas de criança; já animei festas de criança e chateei-me por ser confundido com babá (nada contra as babás); já fui elogiado pelo meu trabalho maravilhoso por uma pessoa que não fazia a menor ideia de como eu trabalhava; já me vi sorrindo falsamente para manter a pose de bonzinho como se fosse obriagação; já me apresentei em teatros e alcancei fracassos sem igual; já me apresentei na rua e ninguém riu; já fiz crianças chorarem só por me verem vestido de palhaço.
Felizmente as pessoas não nos vêm como queremos, não nos dão o valor que gostaríamos de ter. Somos ridículos e ridicularizados, somos, ao mesmo tempo, todos os palhaços do catálogo.
Por isso nunca devemos deixar de querer ser elogiados, vangloriados, santificados. A graça está neste grande tombo, dos céus ao lodo!
Gosto muito da metáfora budista da flor de lótus, qual nos lembra que do lodo pode nascer a mais linda flor.
Palhaço Pelúcia (às vezes, confundido com o Patati-patatá)