1.
Roupas iguais, quartos iguais, camas iguais, procedimentos padrões e alimentações adequadas. Na des-personalidade daquele quarto de hospital notamos que algo se destacava por sua beleza singular: a fronha. Você arregalou os olhos como se não acreditasse que a gente tinha realmente percebido. Uma peculiaridade tão sua, tão sua, que se instaurou naquele instante um espaço confortável de intimidade e você nos deixou entrar de vez no quarto que já havíamos entrado. Criteriosamente bordada, cada fio uma pétala pensada, explosão de cores onde você repousa os sonhos de altas, curas, altas curas e voltas pra casa.
“Fui eu mesma quem bordou”, encheu-se de orgulho.
“É linda mesmo!”, reforçamos. “Faz algumas pro nosso enxoval?”
“Faço!!!”
2.
Na entrada do hospital duas mulheres carregavam um cobertor colorido e o travesseiro abraçado pela querida fronha. Iam levar para um parente um pouco de casa, de cheiro, de cor.
3.
As três palhaças abriram a porta.
O paciente e o acompanhante abriram o olhar.
Algo estava para acontecer.
“Que fronha bonita!”, solta Solara.
Sim, era muito bonita de fato, toda feita de chita. Coloridérrida.
O homem sorriu e disse que sua esposa a escolheu.
Entramos.
Larissa Lima – Siriema