Me mudei de casa. Agora tô mais, como dizer, no mato. Vim morar aqui por uma série de razões que não cabe aqui descrever. Uma das coisas que percebi é que, perto da porta de entrada, tinha uns cocozinhos no chão. Eu varria aquilo e, no dia seguinte, lá estava de novo. Comecei a me perguntar se eram de rato, o que seria um problema e até mais nojento. Mas logo cheguei à conclusão de que não deveria ser, pois estavam em um lugar assim, meio desinteressante para um rato. Logo levantei a possibilidade de ser de morcego, mais provável, inclusive, que ele vinha durante a noite. Olhei pro telhadinho da entrada, procurando onde o morcego poderia estar se empoleirando, já pensando em como colocar ali uma barreira pra ele não voltar, pra ele mudar de lugar, uma tela ou uns arames. Os dias foram se passando, e a prioridade não era essa, então, limpava os cocozinhos praguejando, olhava pra cima e lembrava que tinha que encontrar uma forma de fazer o morcego mudar de lugar. Era um incômodo. 

Nesse meio tempo quis colocar uma lâmpada e um interruptor na frente da porta, pra quando chegar em casa de noite, poder enxergar a fechadura e abrir a porta com mais facilidade. Aqui é bem escuro. Instalei aqueles interruptores de sobrepor, que se parafusam por cima da parede. Fica uma caixinha pra fora. E foi isso que me possibilitou decifrar o paradeiro do morcego, pois, logo depois de instalar, uma meia hora depois, voltei ali e, sobre a caixinha do interruptor, tinha um daqueles cocozinhos. Isso era de dia, e não deu tempo de o morcego ter vindo durante a noite.

Foi só aí que resolvi olhar numa reentrância da madeira que faz a fachada da casa, ali, num buraquinho pequeno. Apontei a lanterna do celular e vi, bem espremidinhos, três morceguinhos. 

Pra mim foi um choque de idéias. Se antes eles eram um incômodo de que eu queria me livrar, agora tinha me maravilhado por poder ver morcegos assim, tão de perto, e paradinhos. Não apenas voando durante a noite. 

Também me caiu a ficha de que eles não ficavam ali durante a noite. Eles moravam ali. Ali é a casa deles!

Puxa vida. Eu me mudei pra casa dos morcegos e eu queria que eles se mudassem… 

Acho que o afeto e a empatia tem a ver com a possibilidade de se colocar no lugar do outro, mas sem despejá-lo né!

Bom, agora moramos juntos, e a limpeza dos cocozinhos é mais resignada agora. 

Palhaço Pelúcia