Não se sabe precisar bem o momento do nascimento de uma palhaça.
Alguns dizem que é no rito, no batismo ou ao cruzar a cortina.
Outros dizem que é pelo olhar. Ou, com maior precisão, pelo ato de ser olhada.
Talvez a física quântica explique: o átomo observado é diretamente influenciado pelo seu observador.
Uma palhaça nada mais é do que um atrapalhado amontoado de átomos.
Quando se coloca o olhar sobre ela, as configurações atômicas se reorganizam rapidamente, mas pouco se sabe dizer sobre o objetivo da configuração em si.
Há estudos que apontam indiretamente para a brincadeira. A depender da postura do observador, os átomos… Bem, eles “brincam”.
As palhaças também.
Os resultados são múltiplos, da mudança radical de forma ao teletransporte.
Que atire a primeira pedra a palhaça que nunca se viu abruptamente transformada em um cachorro. Ou aquela que nunca se teletransportou para fora do quarto-palco o mais rápido que pode, antes que seus segredos fossem todos revelados.
De fato, as semelhanças são muitas.
Há experimentos que demonstram que os átomos, estes safados, só mudam de lugar quando não estão sendo vistos.
Quem nunca?
E mais surpreendente parece ser que olhares distintos levam a resultados diferentes. O observador A pode gerar um efeito totalmente diferente do observador B sobre o átomo em questão.
O que nos leva diretamente à palhaça e seus inúmeros nascimentos diante de cada novo olhar, cada novo observador feito público.
A palhaça é parida pelos olhos. O nascimento se dá na medida em que os olhos se encontram.
A palhaça nasce ao ser vista.
YARA ROSSATTO – PALHAÇA SOLARA