O palhaço entre pela janela… da alma… pelo olhar. Pelo canto em cada canto, com seu olhar vivo, sua maneira de agir, óbvia e ao mesmo tempo inusitada.
Óbvia, porque faz aquilo que tem vontade, que é natural, que está ligado à natureza. Inusitada, justamente, porque muitas vezes esta forma de agir é diferente do que se faz ou espera. Agimos, em nosso dia-a-dia, de maneira previsível, encouraçada, padronizada e, muitas vezes, distante de nossa natural vontade, do que em nós pulsa. E a vida pulsa, presente no visível e no invisível, no palpável e no que não é palpável, mas que, ainda assim, se pode tocar.
O palhaço toca o palhaço, o ser toca o ser, nos identificamos com o que é semelhante. Por isso, quando se age de maneira natural, seguindo a uma vontade mais essencial, há uma identificação: ainda que as vontades sejam diferentes, a essência do que as move pode ser a mesma coisa, algo que pulsa, como o coração.
Por isso, também, é que é possível dizer que o palhaço diz “sim!”. Ele aceita as coisas, olha pra elas de maneira autêntica e ao mesmo tempo comum, simples. Sim para o que muitas vezes negamos, talvez por medo, para nos protegermos, para não despertarmos algo que poderia causar uma revolução, uma desordem, seja num âmbito mais íntimo ou mais superficial mesmo.
Mas o fato é que desperta algo, um afeto, algo que causa uma afetação, uma emoção. O palhaço é aquele que convida, que ajuda na expressão deste afeto, seja pelo riso, pelas lágrimas, por um sorriso. E como é saudável essa expressão! É saúde em qualquer corpo, esteja ele doente ou não, em qualquer ser. Por isso, lidamos com o que é saudável. Dizendo sim! Sim!, pra quem está doente. Sim, pra quem está prestes a fazer uma cirurgia. Sim!, pra quem está num estado, que dizem os médicos, terminal. Terminal de quê?
Muitas vezes nos ocupamos, nossos pensamentos e sentimentos, do que pode vir a acontecer, mas ainda não aconteceu. Isso é pré-ocupação. O palhaço vive o presente, ali naquele lugar, se ocupando do que já está acontecendo, de tudo o que ali circula, visível ou invisível. Palhaço modifica o que pode modificar e aceita o que não pode, mas interage com isso, como pode, dizendo Sim!.
O palhaço no hospital sabe que ali existem corpos doentes e Sim!, aceita isso, mas se ocupa de outras coisas, talvez do que esteja saudável, se ocupa do estar bem. De fazer bem. Palhaços podem dizer sim! para um menino que está numa cadeira de rodas e propõe uma luta de boxe. Muitas vezes o ator, preocupado, pensa que seria violência, mas o palhaço nem pergunta se é violência, pois sabe e descobre, depois de dizer sim!, que violência seria negar ao menino, naquela situação, o prazer de ser um boxeador, e então, felizes da VIDA, trocam socos e beijos, saem rodopiando após um soco BEM dado, e antes de sumirem na próxima curva do corredor mandam um beijo, ou então, dizem, de maneira ambígua, “eu voltarei!”.
Hique Veiga Dr. Ipsis Literis acredita que o mundo seria um lugar muito melhor se a gente pudesse (ou aprendesse a) dizer mais “sim” todos os dias, e sugere que todos experimentem sempre que puderem!