Me mudei e, pra descer a máquina de lavar, tirei o contrapeso de dentro, que nada mais é que uma peça de concreto parafusada ao cesto. O objetivo do contrapeso é impedir que a máquina saia voando enquanto lava. Mas, pra descer a escada, é melhor que possa voar como uma pluma.
Chegando ao novo domicílio, re-parafusei o contrapeso, mas não liguei a máquina pois a estiagem primeiro e depois o mau tempo me fizeram aguardar para lavar as roupas. Nessas de falta d’água, passou-se um mês, lavando alguma coisa na mão, ou na casa de amigos e parentes.
Chegou o dia!
A caixa d’água tá cheia, o dia tá bão.
Vou lavar uma maquinada cheia.
E “Trumblukra bran krabrum, trambow, traboq, drumbai!”
Um barulho de carro sem roda em estrada de paralelepípedo. O contrapeso soltou e tava estourando pipoca dentro da carcaça da máquina. Desliguei assim que pude. Abri a desgrama e descobri que um dos parafusos que segurava o contrapêso quebrou, ou soltou e quebrou, e o outro entortou. Mais um adiamento. A roupa apenas molhou e já foi impedida de ser lavada. Até conseguir comprar o parafuso novo e as porcas para prendê-lo, levou mais uma semana.
De parafusos e porcas no lugar, quando o dia fez sol, combinado com a caixa d’água cheia, uma nova tentativa…
Máquina não liga.
Acende a luz do piloto, mas nada de pilotar. Nem rumor.
Pensei: “o contrapeso deve ter contrapesado em algum fio ou conexão que agora nem liga.”. Abri a desgrama e tentei apertar tudo que era fio e conexão, mexia nos fiozinhos, olhei, pesquisei e nada.
Joguei a toalha. Chamei um técnico.
Por telefone fez o diagnóstico: “é o sensor da porta.”. “Tem certeza? Porque o concreto voltou pra betoneira lá dentro; depois de curado!”.
Veio, e na visita mostrou que um bom técnico pode fazer diagnóstico até por telepatia. Jampeou o sensor da porta em “sempre fechado” e pum, ligou na hora.
Concordei em deixar assim, sem o sensor da porta. Desta forma a máquina não para o funcionamento em caso de porta aberta. Tudo bem, saiu pronto e com o desconto de 200 pilas, que custava a trava nova da porta. Poderia até dizer que saí ganhando.
O técnico foi e eu, feliz, acordei no dia seguinte jurando aquela roupa pré-molhada: “de hoje não passa!”.
Liguei a máquina, esperei uns minutos, vi que tava tudo bem, e fui cuidar das outras coisas que estavam dando certo.
Alguns minutos depois, escutei barulho de pingos e fui verificar.
Água escorrendo pela borracha da porta. Poxa. Eu vi o técnico mexendo na borracha pra tirar a trava. Deve ter colocado errado. Liguei e expliquei o ocorrido e esperei uma solução. E foi esperando que fiquei, pois a resposta, um dia depois, foi: “vamos encaminhar para o técnico”.
Passaram-se três dias e nada. Pensei que, quem sabe se eu não fuçasse na borracha alí, eu mesmo não dava um jeito. O quê tinha a perder?
Mexi uma vez. Vazou de novo.
Mexi outra. Vazou.
E nessas de vazar, minha caixa d’água esvaziando. As descargas escassas, os banhos mais que rápidos.
Vi que o vazamento era no contato entre a borracha e a tampa de plástico transparente. Tipo a janelinha da escotilha da máquina.
Pensei. Vou engrossar essa janelinha com uma camada de cola de poliuretano, que é como se fosse uma borracha, e vai servir de vedação.
Retirei a tampa e como um artesão, fiz um anel de vedação de cola de poliuretano. Ficou lindo. Lisinho. Caprichei no acabamento.
Na embalagem dizia, cura total em 48 horas. Deixei secando sobre a mesa por dois dias.
Nesse ínterim a assistência respondeu: “o técnico disse que pode ir, e se for só recolocar a borracha, só cobramos o deslocamento”. (já tinham defendido que o defeito não fora causado pela remoção da trava).
Tive que negar a visita, pois a vedação manufaturada por mim, ainda estava em cura, e a porta estava fora. Além disso, meu reparo poderia resolver o problema. Pedi para que não enviassem o técnico até que eu testasse de novo.
Feliz estava no fim da cura. Chegou o dia da remontagem e do teste, e por consequência, de lavar roupa!
Droga.
A porta não entra.
Meu anel de vedação ficou lindo, mas grosso demais. Nada que uma desbastada com lixa, não resolva. Amanhã, resolvo.
Amanhã chegou. Lixei um tanto. Não fechou. Lixei mais. Ainda não. Lixei quase meia hora. Nada. Vou ser mais bruto, vou tirar logo um naco no estilete. Não fechou. Tirei mais pro lado, lixei. Estilete. Lixei. Forçando quase deu. Último round de lixadura. Deu. Forçando, assim, fecha. Até bom, que fica bem justo.
Viva! É hoje. Vou lavar roupa!
Encho a máquina de roupa com gosto. Sabão na medida exata. Lavada-arte. Ligo e a magia começa.
Barulho de água pingando.
Vazando. Não pela porta. Nem chegou a água na altura da porta. Vazou pela borracha na parte de trás, que liga no cesto.
Abri a porta. Tentei fuçar. Mexi na borracha. Liguei a máquina de novo. O mesmo.
Mandei mensagem pra assistência. “Preciso de uma visita do técnico!”
Veio um feriado. Não obtive resposta.
O dia está lindo. Solzão. Do tamanho do meu cesto de roupa suja.
Máquina dos inferno.
Palhaço Pelúcia