Hoje tentei caminhar em linha reta pra ver se daria a volta na Terra, antes mesmo de começar a andar me peguei pensando: quantos quilômetros vou precisar andar? Quantos anos essa caminhada vai durar? E quando chegar no mar? Eu caminharei ou vou nadar? Nadar conta como caminhar? E se der vontade de fazer xixi? E se na verdade, quando eu voltar, tudo estiver igual? As pessoas que estão aqui, ainda vão estar, só que um tempo mais envelhecidas? Enquanto fazia a mim mesmo todas essas perguntas percebi a criança ali, me olhando, percebendo minha indecisão, então perguntei: pra onde eu vou? Pra lá ou pra cá?
Ela disse: pra lá!
– Mas tinha planejado tudo pra cá!!
Tudo bem virei pro outro lado e olhando, agora sim para a porta e não mais a parede (que refletindo agora seria já o primeiro problema para minha jornada), voltei a me questionar… será que uma linha reta é reta mesmo quando eu subir e descer de uma montanha? Será que nessa reta que pretendo ir vou chegar a um deserto? E se acabar minha água? Será que se eu andar num camelo a caminhada está valendo? Se eu tô me questionando para o outro lado eu deveria estar pensando de trás pra frente? Ixix rezaf ed edatnov red es e??? E lá, a criança, vendo meu desespero na indecisão… Me disse:
– Ah, fica aí.
Eu fiquei.
E ela saiu.
Que decidida!
Paulo Carneiro, palhaço Abelardo Biloba