Oi, faz tempo que não te uso!
Desculpa, não quero te tratar assim, como um objeto qualquer. Mas também a conversa aqui não é sobre saudade ou sobre chegar a alguma nostalgia. Porque a tecnologia chega e toma conta e é mais prático mesmo! Mas confesso que sinto falta do seu barulho raspando o papel. As palavras não mudam, mas tenho que confessar que seu traço é mais macio! E de alguma forma o som do seu trabalho, me inspirava.
Lembra quando nos debruçávamos sobre o caderninho da Trupe e escrevíamos juntos sem definir um objetivo? Você conduzia mais que eu. Parecia que sabia puxar as palavras de dentro de mim e aleatoriamente elas iam surgindo num fluxo só: enfermeira, sorriso, vidro, bola, sabão, lava uma, lava a outra, álcool gel, fluido, sentido, riso, marias, tantas que choram, tantas que riem… E assim você tirava de dentro de mim tudo aquilo que eu precisava dizer. Quando víamos, tínhamos páginas e páginas escritas, contando minhas idas aos hospitais, registrando os mais variados encontros. Seguíamos a nossa lógica, só nossa!
Agora a escrita tá diferente! Não escuto o som de outros lápis raspando as páginas de cadernos dos outros palhaçx. Também não deito mais de barriga no chão para escrever. As vezes divido o trabalho entre todos os dedos, inclusive da mão esquerda, mas a maioria das vezes o trabalho fica só para os dedões, que por vezes travam.
Mas como eu disse lá em cima, essa conversa não é pra ser nostálgica, mas só pra dizer que sinto falta da profundidade que você me trazia. Qualquer dia desses te pego com calma, acho que até dá pra abrir um espaço no chão da sala, começamos nos apontando e deixamos fluir. O que acha? Como nos velhos tempos.
Até logo,
Palhaça Bisnaga