Porque era o único que sobrou, o que ninguém quis. E eu queria muito. Queria mesmo é que coubesse!
– “Qual é o seu número?” perguntou o figurinista.
– “É aquele número ali” – digo eu, apontando para o sapato cor de rosa pontiagudo.
Ele olha e diz desconfiado:
– Posso fazer um vestido pra você… mas o sapato é complicado. Será mesmo que cabe?
– Ahhh vai caber sim – digo eu, querendo mesmo era caber no grupo.
Esprimi* bem esprimidinhos os dedos que couberam sem caber no sapato cor de rosa. Mágica. Coisa que não se explica. E eu que nunca gostei de cor de rosa, comecei a gostar!
O aperto até começou a fazer parte do trabalho. Me maquiava, vestia o figurino e por último o sapato hum ai ui entrava e eu pegava no tranco. Como aquele teste do beliscão pra saber se estamos vivos ou acordados. Me belisca? Com o sapato apertado ia lembrando pelo caminho todo o quão viva estava!
Mas aí, ano passado, por algum motivo, o sapato deixou de caber. Simples assim. Os dedos começaram a querer mais espaço para se esparramar pelo sapato de dentro. E também pelo sapato de fora. Pelo mundo. Normalmente os pés de palhaço e palhaça são grandes. Será que o meu cresceu?
Às escondidas comecei a usar o sapato amarelo. Digo “às escondidas” porque ele já tem dona… então, divido-o em segredo… prá caber junto no grupo. Assim vamos cabendo, mesmo sem caber.
O sapato amarelo é meu pé de pato. Os dedos quase escapam de tanto espaço. Os tropeços não são pretextos, são reais. Com os sapatos amarelos, agora, mergulho.
Dedico esse texto ao falecido seu D’ Aquino, que fez os sapatos para a Trupe da Saúde. Continuamos caminhando juntos 🙂
Com carinho
Carmela / Camila
**sempre acho que esprimi é com “i” prá ficar mais esprimido hahaha