Olá Dr. Motoca…
Recebi sua carta…
acho que houve um engano…
linha cruzada…
carta cruzada…
fato é que, eu não sou presidenta de coisa nenhuma…
também não sou doutora…
nem sou Lambreta.
Mas… por alguma coincidência estranha, conheço o João.
Meu grande amigo João…
Somos amigos há um bom tanto de anos…
Ele é uma grande pessoa. Sempre me tratou muito bem.
Com muito respeito e afeto. Principalmente quando passamos a morar juntos.
Ah, que grande amigo era o João.
Ele fazia de tudo para mim.
Arrumou um cantinho confortável para eu dormir e o limpava com frequência.
Soube o quanto eu gostava de água e providenciou até uma piscina no quintal.
Eu adoro um mergulho! Não passo um dia sem relaxar dentro d´água!
João cozinhava para mim também.
Tenho uma dieta bastante específica pra manter meu corpo forte.
E ele cuidava de cada detalhe.
Até cantar pra mim ele cantava, acredita?
Mas, um dia nossa amizade passou por uma situação muito complicada.
Mesmo com uma dieta balanceada e equilibrada, eu seguia com fome.
E João, cultivava ali do ladinho da casa uma horta.
Não, não era uma horta, era, era… era o paraíso!
Era de um verdume lindo e cheiroso e ficava ali, bem do ladinho.
Tinha uma cerca. Mas o cheiro ainda vinha! E que perfume!
Aos pouquinhos, dia após dia, fui conseguindo abrir um buraco na cerca.
Devo ter engolido algum pedaço de cerca. Mas valeu a pena.
Pelo que eu comi depois, valeu cada esforço.
Alface. Roxa, Crespa, Americana, Lisa.
Couve. Agrião. Almeirão. Escarola e Espinafre.
Uma infinidade de folhas, um mar de hortaliças!
Dr. Motoca, parecia que eu estava no céu.
Foi o dia mais feliz da minha vida.
Comi, comi, comi e me enfiei dentro do casco pra descansar um pouquinho antes de comer mais.
E aí, voei!
Voei, dr. Motoca. Eu! Voei!
Sempre quis, mas nunca tive asa, não…
Achei mesmo que tinha passado desta pra uma melhor.
Morri de comer, pensei.
Mas, não parei no céu, não.
Ahhh, também não fui lá pra baixo, ufa.
Mas caí estatelada no chão.
E vi meu grande amigo João voar por cima de mim.
Amigos voando juntos…
Meu casco trincou. Depois soube da perna quebrada dele.
Foram dias bem difíceis. Fiquei sem o João em casa.
Apareceu foi uma moça. Falando que era amiga dele.
Que estava cuidando dele e que cuidaria de mim.
De primeiro, fiquei com ciúme.
Amiga do João sou eu, oras.
Mas, até que a chegada dela foi boa, viu.
Agora ela está sempre por aqui.
E, nessas horas que o João fica distraído com ela,
eu consigo avançar para o outro lado da cerca
e ficar mais um tempinho no paraíso!
Um abraço, Dr. Motoca.
Espero que sua dor abdominal causada por risos descontrolados só aumente.
Com carinho,
A tartaruga.
Aneliza Paiva – Palhaça Frida – Plantão Sorriso