Oi D*, como você está hoje?
Faz alguns meses que não te vejo, pois minha rota mudou. Mas eu penso sempre em você. Poxa vida, o tempo passa rápido e também demora um bocado a passar.
A gente se conhece há 8 anos já. Não sei seu sobrenome, não sei o nome da sua mãe ou do seu pai, não sei se eles são presentes na sua vida, não sei o que se passa nos seus pensamentos, nem sei ao certo sua idade ou o que você sabe de mim.
Mas eu sei muito. E você sabe também.
Sei do seu sorriso largo, quando chegamos cantarolando no corredor do hospital. Sei dos seus olhos atentos e brilhantes, que acompanham o nosso olhar.
Sei que a sua música preferida é “o gato na tuba” e sei disso, por causa da gargalhada gostosa que você faz ressoar pelo quarto.
Sei que você gosta quando as enfermeiras te dão banho e depois passam hidratante na sua pele tão sensível de criança. Sei que você entende as despedidas e sei que aguarda as chegadas.
Não sei, se eu sei mesmo disso tudo. Mas eu sinto. Sinto que a gente se encontra nesses momentos. Se encontra de verdade, né?
Sem falar nada, a gente se entende e, naquele momento efêmero, a gente se conhece de verdade.
Bem, essa carta é pra dizer que sempre estarei batendo na porta, de mansinho e com muito carinho.
E não importa em qual quarto você esteja, eu estarei lá do outro lado da porta cantando “o gato na tuba” e dançando igual uma “capivara alucinada” junto com minha dupla, para que sua gargalhada ecoe por todo o hospital e principalmente, dentro da gente.
Um cafuné, com carinho,
Dra. Adelaide – Dengologista do Plantão Sorriso.
Foto: Fabio Alcover