Me atravessa o momento em que Adalberto e Gerson, cada um em uma extremidade da sala onde aconteceu nosso encontro com a Trupe da Saúde, aparecem encostados na parede. Em-costas-do. Um de frente para o outro. Do lado direito do meu olhar, tem o Gerson com as costas apoiadas na parede e o corpo como que sentado em uma cadeira invisível. Do outro lado, surge Adalberto também com as costas na parede e o corpo escorregando, cedendo à gravidade. Havia muito esforço dos dois lados. Quanto mais tentavam manter o corpo em pé, mais ele escorregava.
Particularmente, percebo que isso se relaciona com a minha vivência na palhaçaria: quanto mais eu tento entender (racionalizar), mais me percebo (sinto). Quanto mais tento me manter em pé, mais eu me sinto escorregando, descobrindo e permitindo. Me atravessa também o quão importante foram esses momentos de experimentação e de jogo. Como é bonito admirar o corpo da outra pessoa disponível para o que está acontecendo. Não temos encontrado muito tempo para experimentações coletivas e jogo, e as vivências com a Trupe da Saúde foram muito significativas por nos proporcionarem momentos tão ricos. Descobertas. Costas abertas.
Por André Demarchi
Plantão Sorriso