Estamos em outubro.
O ano é 2020.
Ano louco de quarentena pandêmica e home office, este nome chique para quem trabalha de casa e também na casa e para a casa, já que casa dá muito trabalho!
O fim do ano se aproxima anunciando que ainda que mascarado, Papai Noel viajará em seu trenó e pinheirinhos luminosos se ascenderão pelas ruas.
Os ares de verão invadem as janelas, fingindo novidade ainda que tenham aparecido até mesmo durante o inverno, já que aquecer o planeta está na moda. Trazem as boas novas da primavera-verão brasileira, que disfarça números e gentes e sorri, sem máscara mesmo porque talvez nem seja tudo isso.
Seria um sonho?
Nós, palhaças e palhaços seguimos portando a menor máscara do mundo e olhando para o mundo através deste pontinho espião que invade nossas casas e vidas. Olhando e sendo olhados. Às vezes até sorrimos, mesmo que seja tudo isso.
Outras vezes, choramos. Como hoje.
Numa celebração prematura do ano que finda, estávamos nós num amigo secreto virtual. As facetas do faça-qualquer-coisa-de-casa-e-mesmo-assim-esteja-com-os-outros-e-celebre são tantas que inventamos um jeito de dar presentes uns aos outros virtualmente. Isso porque eu não estou nem falando das festas de aniversário pelo WhatsApp. As melhores.
Voltando ao amigo, ou aos amigos, choramos todos. Foi um tal de elogia daqui, complementa de lá, recorda dessa ou daquela história que marcaram, assiste aquele vídeo lindo que a pessoa fez, recebe esse carinho todo através de 14 telinhas compartimentadas que somando juntaram um bocado de amor e outro tanto de emoção. Teve até gente dizendo que chegou a hora de dizer adeus e ficou mesmo difícil não chorar.
Foi um choro bonito e até feliz. E o amigo secreto virou na verdade um amigo reconhecido. E nos reconhecemos todos e por isso choramos e celebramos o ano dos quadradinhos, dos olhos que não se encontram nunca porque não dá pra olhar no olho pela câmera, das trocas de áudios que tornaram-se as conversas e cafés que não tivemos, dos finais de Live em que a gente fica mais um pouquinho porque quer muito estar junto, das surpreendentes possibilidades em meio a tantas impossibilidades, de reinventar-se e desenvolver múltiplas habilidades pois era o único jeito, do desejo de um encontro no parque mesmo que fosse a dois metros de distância, de escolher uma amiga ou amigo secreto pra olhar na telinha e sentir uma saudade danada, de achar aquele sorriso tão bonito e sorrir porque achou aquele sorriso tão bonito e sorrir porque achou aquele sorriso tão bonito e sorrir porque acho aquele sorriso tão bonito e sorrir….
Yara Rossatto – Palhaça Solara