Outro dia, uma amiga querida e colega-palhaça de hospital contou que havia se aventurado a perguntar algo que há tempos queria saber, mas faltava coragem: como havia sido trabalhar dentro do hospital durante a pandemia?
A pergunta foi para uma enfermeira, que desandou a narrar: o horror, a dor, a angústia. Mas narrou também a competência, o esforço, o carinho, o cuidado e o amor!
Nós, afastados dos hospitais nesse período desolador da história, por cuidado, prevenção e também condição (já que não éramos assim tão essenciais, dadas as circunstâncias) acompanhamos tudo isso de longe pelas notícias, como todos aqueles que não precisaram presenciar de perto a complexidade de uma pandemia dentro de um hospital.
Senti muitas coisas ao ouvir este relato: curiosidade, aflição, compaixão… Mas acima de tudo: admiração!
É muito recorrente que ao conversar com pessoas sobre o caráter do nosso trabalho se escute algo como “eu não conseguiria!”… Parece penoso demais para parcela dos seres humaninhos encarar a dor vivenciada nos leitos hospitalares.
Respeito esse sentimento, pois eu mesma já o vivenciei. Mas não posso deixar de pensar que nossa incursão palhacística pelo ambiente hospitalar é movida a risos e sorrisos, receptividade, animação, boas-vindas! Enfrentamos pontualmente situações delicadas e cenas nada românticas, mas devo frisar: é pontual.
Que dizer então desses trabalhadores da saúde que disponibilizam não um, dois ou três períodos da semana dedicados aos pacientes nos hospitais mas sim todos os dias, toda uma carreira? Isso mesmo, me refiro à enfermagem. São enfermeiras, técnicos e auxiliares os profissionais com quem mais cruzamos dentro dos hospitais.
É a eles que nos reportamos ao chegar, com quem checamos se há alguma restrição para visitas, com quem nos familiarizamos ao longo do tempo, para quem oferecemos nossas veias sobressalentes para punção (risos) e com quem fazemos amizade…
E do ladinho deles, vem as equipes de limpeza e nutrição. A primeira está sempre passando o rodo, e a última segue por anos a fio me devendo uma marmitinha hospitalar porque sim, eu quero comer dessa comida!
E são ainda estes mesmos profissionais que entram e saem sem parar dos quartos por onde passamos, conhecendo cada paciente pelo nome, sabendo um tantinho ou tantão de suas histórias, tornando a experiência de estar em um hospital mais humana e calorosa.
Portanto, ainda que sejamos nós os recebidos com festa, são essas equipes que quero celebrar e dedicar meu respeito e admiração: pelos momentos pandêmicos que não pudemos viver junto deles nos hospitais, e por todos os momentos incansáveis de atuação e cuidado. Bons e maus momentos onde eles estiveram sempre, sempre presentes!
Envio aqui, através dessa história-relato-memória um beijo saudoso de uma admiradora (nada) secreta: a palhaça Solara.
Yara Rossatto