Tava eu aqui, de quarentena, sem fazer nada, pensando em o que poderia fazer, e cheguei a uma contradição. Se não tô fazendo nada, mas tô pensando nisso, então, eu tô fazendo alguma coisa: pensando. 

Mas, pensar, hoje em dia, não tá muito na moda, e diria que é até perigoso dizer que pensa em público, pode gerar alguma confusão. 

Se bem que, em público, agora, é quase improvável. 

Enfim, assumindo os riscos sociais, volto a dizer: estive pensando. 

Já sei! Pensar não tem sido considerada uma atividade digna, portanto, até eu, que costumo escutar meus pensamentos, acabo desconfiando da validade desta atividade: será que não tenho nada mais produtivo pra fazer? 

Mas se eu começar a pensar em o que fazer, pronto, tô eu de novo no começo do meu raciocínio, pensando de novo.

Então, pera. 

Pode ser que tenha tipos de pensar diferentes. Uns que valem a pena e outros que nem tanto. Então o pensamento valioso deve ser aquele com método! Sim, aquele que te empurra pra frente, pra descobrir algo novo, que não se deixa enganar com falsas armadilhas lógicas! 

Pode ser. No entanto a turma que tem este tipo de atividade como profissão está cada vez mais desvalorizada, ou, se valorizados, contrariados pelas vozes do whatsapp, tão decisivas, apesar de tudo. 

Tudo bem, eu não tenho que viver disso, de pensar. Eu posso ser apenas um diletante. Um pensador amador. Penso só nas horas vagas: um hobby, que posso desenvolver melhor agora que tô com tempo pra não fazer nada. 

Tô aqui, então, pensando que não tô fazendo nada, mas, pensando nisso sem compromisso. Tô só passando o tempo. E como passa heim? Quem diria. Tô há três ou quatro semanas em quarentena? Nem sei mais. 

Pensando bem mesmo, será que a quarentena já não acabou? Não, sério. Pense você comigo. Você aí do outro lado. Com tudo isso que tá rolando, não começou a pensar mais nas coisas? Na vida? No que escolhe fazer dela? Em como e com quem escolhe passar seu tempo? Pois então…

Será que, na verdade (e não quero pôr pulga atrás da orelha de ninguém), a quarentena era a vida que a gente tava levando antes da quarentena, e agora é que a coisa começou de verdade? Será que não é agora que vamos ter que dar o nó na gota d’água?

Não sei. 

Pensei nisso agora, mas foi só um pensamento.

Pelúcia.