Entramos no quarto.
Ela, senhorinha Lucia, olha para o horizonte dela mesma.
A outra, senhorinha Maria, conversa. A sua acompanhante Maria também conversa, é fiada pra lá, fiada pra cá: “Que bom que vocês vieram nos visitar.”
A outra, senhorinha Lucia, continua em seu horizonte particular.
“Tem que falar bem perto dela, ela não escuta direito…”
Chego perto da senhorinha e o meu nariz se encontra com os olhos dela.
E, num salto de instante, seu olhar salta do horizonte e aterriza ali na nossa frente:
“Sabe, eu colocava um nariz de palhaça e olhava assim para minha netinha oh…”
Ela então vira palhaça e me olha, me olha, como se eu fosse a netinha e ela a palhaça.
“Ei, tem mais uma palhaça aqui!”
Do meu bolso tiro uma xícara rosa e coloco em seu nariz. A xícara vira seu nariz de palhaça.
Com um beijo de nariz, a palhaça adormecida despertou naquele momento, fomos embora e a palhaça Lucia ficou.
Fúcsia / Fernanda Fuchs
Abril 2018