Trabalhando juntinho do nosso público (que às vezes é mais palhaço que todos nós, e adoramos isso!), lidamos com algo bastante imprevisível: seres humanos. Tanto os palhaços quanto os pacientes, acompanhantes e funcionários nos hospitais são humanos (juro, encomendamos uma pesquisa completíssima e constatamos 100% de humanidade em todos eles, contrariando algumas expectativas de que alguns dos palhaços fossem alienígenas). E aí tudo pode acontecer: ninguém ri da piada, um palhaço não entende a proposta do outro, a enfermeira entra no quarto e interrompe a brincadeira, o paciente se aborrece e decide voltar a ver televisão… Então, no meio de tanta coisa acontecendo, como saber o que é certo e o que é errado?
Algumas vezes saí de alguns quartos pensando “poxa vida, fiz tudo errado” ou “não deu certo”. À medida que esses pensamentos se tornaram mais freqüentes, fui percebendo o quão eu estava (e ainda estou!) condicionado a detectar erros e que, quanto mais eu queria acertar, menos eu fazia e menos eu estava aberto aos outros. A busca pelo acerto era (e ainda é!) um grande obstáculo.
Quantas vezes você já teve tanto medo de errar, mas tanto, que acabou desistindo do que estava fazendo só pra evitar o erro? Eu, muitas. Acontece que somos todos educados, desde muito cedo, a acertar tudo e evitar o erro. Temos que dar a resposta certa na prova, temos que acertar a cesta no basquete, temos que estar sempre na hora certa e no lugar certo (não é assim que dizem?). Tudo sempre regulado pelo certo.
Então você cresce e fica preso à ideia de que nunca pode errar, porque o erro é sinônimo de fracasso. Não importa quantas vezes repitam que é errando que se aprende, no fim das contas parece que falam isso apenas para lhe confortar.
Eu ainda estou aprendendo a não querer acertar. Passei a me empenhar para que aquilo que nos acostumamos a chamar de erro possa virar uma grande oportunidade. Cada proposta é uma oportunidade de tentar algo novo, cada palhaço é uma oportunidade de experimentar um jogo diferente e criar coisas novas, cada interrupção é uma oportunidade para mudar o rumo da proposta, ou até mesmo assumir que algo não está legal e recomeçar. Tudo pode ser uma oportunidade para você brincar com quem você é e com o que está sentindo. Tento não ver mais certos e errados nesse trabalho, mas ver oportunidades. Desde a oportunidade de interagir com o paciente até a oportunidade de deixá-lo ali, no seu canto, quando ele quer silêncio. E sempre a oportunidade para demonstrar respeito e dar carinho.
Bruno Lops Dr. Lourdes