Não há exatamente um espaço exclusivamente para ela.
Seu cantinho de trabalho e criação é a mesa de plástico embaixo da escada.
A mesa está coberta com um pano colorido pachamama e também tem o importante papel de sustentar o modem, aquele sem o qual nenhum de nós (desta casa) sequer existiria no mundo através da tela.
A mesa carrega um caderno, uma agenda, um livro e uma cuia cheia de canetas coloridas. Fones de ouvido por aqui também transitam e principalmente ele, o chefe da coisa toda, que leva cravado na testa o nome SonicMaster. Um laptop da Asus, teclas e tela preta, com detalhes em um metálico duvidoso que não se decide entre o dourado e a prata, também conhecido como: computador da mamãe.
Se o computador está aberto e ela está diante da tela, significa que “mamãe está trabalhando”. Sabe-se lá o que ela faz tanto ali, mas mamãe gasta boa parte do seu tempo e energia diante deste objeto que parece ter múltiplas funções e competências.
Voltando ao cenário, debaixo da mesa habita um cão. Na verdade, uma fêmea, branca (mas um tanto encardida), peluda e sedutora com suas proporções avantajadas. Não porque não tenha caminha para deitar-se, mas porque elegeu a proteção que lhe oferece a mesa como seu pouso predileto. O volume do cão que passa boa parte do dia dormindo sob a mesa pode ser desafiador para quem ali se senta, exigindo novas posturas, joelhos dobrados ou esticados demais para não pisotear a coisa fofa.
O entorno da mesa é um mundo vasto. Sofás que servem de paragem para todos os brinquedos itinerantes da casa. Esteira de palha sobre o chão. Escada com degraus vazados que permitem ver além, através das portas e janelas. Da perspectiva de quem senta-se à mesa é possível vislumbrar cinco janelas e duas portas, todas com vista para o verde.
Não é exatamente um bom lugar para se trabalhar. Mas é um lugar bonito de ver e viver.
Dá trabalho tentar trabalhar em meio a tanto. Mas pensando bem, trabalhar sempre dá trabalho. Então que seja.
Ali, e em todos os outros lugares da casa, ela trabalha.
Yara Rossatto – A palhaça Solara