Estamos atravessando um período de aceleração no tempo, de relações mais superficiais, de distorção de valores, onde as pessoas estão cada vez mais distantes de sua essência, ou seja, de sua personalidade primária. Quando crianças vivemos o mundo onde os sentimentos são muito presentes, estamos mais vivos, mais espontâneos, o corpo e a mente se expressam de forma integrada.
A Educação que coloca o educar de forma a negar a expressão da criança, faz com que a mesma vá suprimindo, amortecendo os sentimentos. Fica a sensação que o sentimento pode ser algo ameaçador.
“Posso desagradar se manifestar o que sinto, e me sentir humilhado, não amado, ou ainda rejeitado”.
Uma segunda personalidade começa a se instalar, mais adaptada ao mundo, mais racional, mais controlada. Criando uma imagem de perfeição, de onipotência e negando o verdadeiro Eu. A autoimagem real se perdeu em função da Imagem Idealizada, passando a desconsiderar que o que sente no corpo influencia o pensamento e comportamento.
Segundo Reich e Lowen, precursores da Psicologia Corporal, os sentimentos do verdadeiro Self (Eu) passam pelo corpo vivo. O corpo é a essência, portanto o mecanismo de negação do corpo coloca o mesmo como um instrumento da mente, submetido à vontade dela. O corpo passa a desempenhar seu papel como uma máquina, robotizado, faltando-lhe vida. Os vínculos ficam superficiais e os sentimentos cada vez mais negados. “Deixo de ser humano para ser onipotente”.
A sensação é de controle e potência, porém de vazio, de cisão do amor e sexo, corpo e mente; ausência de limites, pois limites são considerados restrições desnecessárias ao potencial humano.
Nos referimos em alguns momentos a uma sociedade desumanizada, cujas pessoas estão distantes de si mesmas e portanto não conseguem desenvolver compaixão, vínculo, empatia.
Em nível cultural Lowen coloca a desumanização como perda dos valores humanos, uma ausência de interesse pelo meio ambiente, pela qualidade de vida, pelos seres humanos e seus semelhantes.
“Uma sociedade que sacrifica o meio ambiente natural em nome do lucro e do poder revela sua insensibilidade frente às necessidades humanas” (Alexander Lowen).
Ao pensar em humanização e no seu resgate, diretamente repenso no resgate do contato com o corpo e na recuperação dos sentimentos suprimidos.
Evelyse Iwai dos Reis Teluski
Psicóloga
Referência Bibliográfica:
Narcisismo, de Alexander Lowen. Editora Summus.