A melodia fluindo por mim, guiando-me, estabelecendo a conexão, tranquilizando tudo, como um mergulho em águas mornas e calmas. O que será desse mar?
Tem peixes de todas as cores, formas, tamanhos. A sereia canta e os peixes escutam, mas os peixes não tem ouvidos! Corrigindo: eles tem o ouvido de dentro, atrás dos olhos. Eles mais sentem a vibração do que ouvem, e isso é tão – literalmente – sensível!
De volta ao aquário, tem peixes que gritam. Tem peixes que se sentem sós. E imprescindivelmente cada peixinho tem uma mãe-peixa que o leva perto de si. Essas mães-peixas nadam por águas profundas, mas sempre voltam a superfície para escutar o canto.
Como é que foram parar todas juntas naquele mesmo aquário?
Ainda assim, elas riem! Riem num grande coro feminino de quem sabe o que é ser mãe-peixa nesse mar!
Quando a gente tá no mar, os buraquinhos ficam todos preenchidos. Cada poro – o buraco do nariz, o buraco do olho, o buraco do vazio de estar só – até ele se preenche de água salgada. E se você tenta falar embaixo d’água, o buraco da boca também enche de água, e a voz sai como música. É assim o canto da sereia!
Um canto que vai preenchendo tudo: a água e o canto virando uma coisa só. Até que não se sabe bem onde começa a água e termina o canto… tampouco se sabe daonde ele vem.
Repare bem nos peixinhos. Estão sempre lá – escutando tudo – mas com o ouvido de dentro.
Palhaça Solara / Yara Rossato