Mais um dia, mais um hospital, mais um céu azul, mais uma bolinha de sabão que bate no vidro daquele quarto no qual não se pode entrar! lá dentro um ser cheio de vida e esperança esperando mais uma bolinha de sabão! ela sobe devagar encosta na camada fria do vidro e estoura! se esvai! se encolhe e se esconde em micropartículas de sabão que grudam no vidro e o marcam! E com essa marca repete para todos que passam por ali ‘’aqui aconteceu um encontro que, embora as evidências demonstrem o contrário, foi muito além desse vidro!’’
Não existe vidro que segure o palhaço! O palhaço é por si só um ser entrante. E não espera a porta se abrir, porque a graça está em atravessar as barreiras que se formam em vão em sua frente! ATRAVESSA! e assim vai além dos limites normais sociais! ele vai além, por isso enxerga além! e se permite ENCONTRAR-SE com outro ser que está louco para ser encontrado! e esse encontro é tão anormal que se torna profundo o suficiente para sorrirem juntos apenas! e encontrar nesse sorriso a plenitude de um verdadeiro encontro!
Nem todos querem o palhaço! mas todos precisam dele! não o queremos porque ele nos mexe e cansa mexer! ah! como precisamos ser mexidos! para sairmos de um redemoinho vicioso de pensamento que não nos permite ir para outros lugares, precisamos que alguém nos mexa para o outro lado. E ninguém mais avesso que um palhaço para reinventar um redemoinho! e ninguém tão entrante como um palhaço para conquistar a permissão para mexer em algo tão particular! e quando somos mexidos, somos mais vivos, somos mais do que éramos, somos novos, somos!
mexamo-nos!
Palhaça Bisnaga