Às vésperas do dia das mães, eu e a Bisnaga fomos para a nossa visita ao Hospital Erasto Gaertner. Entrando, direto ao refeitório: FESTA!!!! Quitutes mil para mães e acompanhantes. Brigadeiro. Bolo. Salgadinho. Refrigerante. Depoimento emocionado da chefe do voluntariado. Só então visita nos quartos.
Essa foi a primeira vez que uma médica me pede para visitar a UTI da Oncologia. Nunca havia entrado lá. Deixamos para o final. E que final. As brincadeiras que criamos com o Igor (o menino deitado na cama, que me recuso a chamar de doente, nem de paciente) não foram as melhores que já fiz na minha vida de palhaço em hospital, também nada de novo em criação de cena, nem nada de tecnicamente maravilhoso. Ele, com seus 9 ou 10 anos, sua janelinha de dentes recém caídos e, por isso mesmo, um sorriso maior que o mundo inteiro! Me senti realmente importante. Fizemos o menino rir com as 50 cabeçadas que dei naquelas portas, com a mão presa no vão, com o piolho na cabeça do pai. Fiz meu coração viajar, o pensamento naufragar em pura gratidão por estar com pessoas cuja coragem não pode ser medida, é premissa básica para sobrevivência. Pela lição de vida dada por uma criança, um pai e uma médica. Senti a cura apoiada pela arte, não a do menino, a minha. Vi o mundo mais lindo possível num lugar em que o mundo pode parecer terrível, e o é, mas o menino que ali está não precisa saber disso!
Obrigado Bisnaga, obrigado Igor e obrigado médica que não guardei o nome, mas que me cravou no peito o diálogo quando saíamos da UTI:
– Tchau doutora, feliz dia das mães!
E ela me olha como quem diz: Que gafe a sua!
Eu percebendo-me:
– Não tem filhos?
– Claro que tenho! Todos esses aqui. – Num gesto circular apontando os cantos de todo o hospital. Com um olhar certeiro apontando fixo em meu coração.
Palhaço Macaxeira