Era um dia cinza, daqueles que dá vontade de ficar quietinho encolhido embaixo das cobertas. Tento não fazer barulho pra não acordar o paciente. Mas sempre tem outro, lá no cantinho, esperando pra falar com a gente.
Aproximo-me devagarzinho e a cada passo vamos juntos descobrindo, com os sinais que vêm do olhar, qual poderia ser a brincadeira neste dia diferente. Nada que vá incomodar o vizinho que tá cochilando ao lado. Nenhuma dessas brincadeiras que a mãe briga que quebra coisa ou suja tudo, só se for de mentirinha. A gente até que é comportado!
Resolvemos que neste dia desensolarado sentaríamos lado a lado quietinhos enquanto o tempo está assim fechado. Começamos com conversa séria, que era o tom que aquele dia nos oferecia (porque às vezes nem precisamos buscar tanto estímulo pra que o jogo aconteça) mas afinal sou Dra. Seriguela, e de tanto ser palhaça fomos parar num monte de besteira. Entre uma xícara de chá invisível e uma bobagem qualquer, falamos até de futuros namorados.
Quando nos demos conta, do lugar nós não saímos, mas a cabeça foi por tudo onde era possível imaginar-se estar. É tanto assunto que fica difícil de ir embora. O tempo é curto e passa rápido, mas tem outros pacientes que também querem conversar.
Antes de sair deixamos um presente para aquele que estava quietinho na dele. E no final do bate papo a gente se olha e se despede com um lindo sorriso estampado. Sorriso que carrega o sol daquele dia acinzentado.
Iza Pucci Dra Seriguela