O aspecto lúdico é um fator importante no trabalho do palhaço. Suas interações estão relacionadas a propostas de jogos e brincadeiras que favorecem o fortalecimento do vínculo com a criança, e a possibilidade dela expressar seus diversos sentimentos.
Brincar é universal e próprio da saúde. Segundo o psicanalista inglês Winnicot, as brincadeiras facilitam o crescimento do indivíduo, os relacionamentos grupais e a comunicação. Para ele, o sentido de liberdade e criatividade está diretamente ligado a possibilidades de a criança viver o lúdico. É no brincar que a criança e até mesmo o adulto fluem sua liberdade de criação.
No ambiente hospitalar, a criança muitas vezes se encontra impotente dentro de sua realidade, e de todos os aspectos aos quais precisa se submeter naquele ambiente. Percebemos que, quando a criança e o palhaço interagem, na maioria das vezes o resultado é uma brincadeira: a criança mergulha na imaginação e recria a realidade. Essa possibilidade de recriar por meio da fantasia produz entusiasmo e possibilidade de desenvolver uma maior capacidade de superação, de desafiar seus limites, de adquir auto-confiança e aprimorar seus sentimentos.
Em suma, o brincar auxilia a criança a lidar com seus sentimentos. Dependendo da faixa etária, a criança não consegue expressar seu sofrimento, ou falar de uma situação de dor emocional, e é no brincar que ela demonstra sua angústia e reorganiza suas emoções. Percebemos na relação com o palhaço os aspectos da emoção infantil se manifestando na forma como o recebe na porta do quarto, brincando de mandar no palhaço como uma forma de reorganizar os vários procedimentos aos quais se submete e até ao rejeitar sua presença. Naquele momento, quem comanda é ela – e isto possibilita um grande alívio gerado pela mudança de passiva para ativa dentro da relação.
Evelyse Iwai dos Reis Teluski é a psicóloga que acompanha a Trupe, carinhosamente chamada de psicoleta.