Primeira vez de Túlio no hospital, primeiro quarto.
Entramos eu e Pelúcia e avistamos um menino com seus 4 anos, com uma camiseta do homem aranha, a mão enfaixada com o que deve ser uma sonda presa, que vai até a máquina (com o tempo vou descobrir os nomes corretos das coisas). Ele nos vê e senta no berço, que tem as grades altas, por segurança óbvio, mas é inevitável não pensar num pássaro numa gaiola, as primeiras palavras são dele: “ó minha mão, tá doendo”. Me vem à boca uma palavra que por algum motivo que ainda não sei explicar parece proibida pra nós palhaços no hospital: “tadinho”. Mas antes que eu pronunciasse a palavra inteira o Palhaço Pelúcia diz: “Ah eu tô te reconhecendo, você é o homem aranha e está preso pela teia, vamo te ajudar, homem aranha”.
Nosso herói está um pouco tonto com a medicação que recebe pela teia e deita de novo quase que caindo, então começa a brincadeira de libertar o homem aranha daquela gaiola e da teia que ao sair da mão acabou ficando presa. Como era de se esperar, os ajudantes do herói eram muito incompetentes e saíram do quarto para procurar o Hulk, o Thor ou algum outro herói mais capaz de ajudar o Aranha.
Foi no primeiro quarto que entendi, Pelúcia me ensinou. O Palhaço vê mais, vê além e aí reage, vê o que há estampado na camisa, vê o cano da sonda, vê o furo na meia, a palavra estranha no rótulo de um remédio e faz disso o mundo. Dentro daquele quarto por alguns minutos vê o ser humano para além do que os olhos foram treinados para ver… E aí entrega de presente para esse ser uma nova perspectiva de quem se é, às vezes um herói.
Túlio Tulipa