Todos com a máscara neutra. Viramos e nos vimos. O primeiro momento em que meu olhar observa as dimensões de um rosto por cima de outro. Alguns são maiores, outros menores que a máscara, todos são iguais, mas com corpos diferentes, tamanhos diferentes. Eu por de baixo da minha gritei e chorei de rir, sem ninguém perceber. Andávamos lentamente pelo espaço, tentando entender o que acontecia, quem eram aquelas criaturas que engoliram meus amigos. Foi bizarramente engraçado vê-los assim. Imagino que eles sentiram o mesmo comigo.
Dentro de mim tudo se contraia de tanto rir, me sentia como um vulcão em erupção que a qualquer momento poderia explodir, mas por fora nada era visível, pois eu era uma deles. Éramos como criaturas, monstros inofensivos que não tinham culpa por sua aparência. E eu me sentia a mais desgraçada por estar rindo deles, mesmo sendo como eles. Afinal sou palhaça criatura estranha feita de riso e nada.
Ser palhaça é a dádiva de ser nada e a possibilidade de ser tudo ao mesmo tempo. Ser palhaça é nascer a cada apresentação, aprender a andar e a falar, e o melhor de tudo, se encantar com isso. Não saber de nada e não esperar por nada, pois o que acontece já é tudo.
Mariana Ferrari/Palhaça Cora
Plantão Sorriso