Duas pessoas na parede. Uma está de frente para a outra e ambas se entregam ao encontro do acaso, lutando contra a gravidade, suando, deixando marcas na parede como as lesmas.
A lesma, em sua miudeza e insignificância segue a vida no seu vagaroso trajeto deixando marcas por onde passa. Quem nota a marca gosmenta e transparente de uma lesma?
A criança, talvez.
Outros animais farejadores.
A própria lesma se dá conta da sua marca? Será? Acho que eu teria que pensar como uma lesma para ter respostas. Mas como não sou lesma, só sei pensar como palhaça.
Então, talvez, o trabalho de uma palhaça e de um palhaço dentro do hospital, seja um espesso rastro de lesma! E dentro desse espesso e transparente rastro, estamos dedicando nosso suor, nossos músculos, nossas lágrimas, enquanto nos escoramos na parede densa do encontro com o outro. Efêmero e potente.
Brincamos com a gravidade do nosso ofício. Uma palhaça e um palhaço no hospital, é grave! Tem risco de riso frouxo, pode até cair os parafusos da cabeça.
Tem risco de não acontecer nada e acontecer tudo.
Tanta miudeza pode acontecer dentro do espesso rastro de uma lesma.
Juliana Galante/Palhaça Adelaide
Plantão Sorriso