Da minha poltrona vejo sempre essa imagem: Por cima do computador, uma janela.
Basculante e de vidro jateado deixa entrar a luz difusa que ilumina a sala. Na lateral, a luz enfatiza o capacete vermelho de bike e a planta cheia de folhas pendentes que mais me lembra uma peruca. Ambos pendurados na parede de madeira com a pintura descascada.
Do outro lado da janela, um pequeno porta-chaves da coca-cola que parece destoar do cenário.
O contra-luz favorece a silhueta dos cacarecos depositados em cima da antiga cômoda que um dia pertenceu à minha vó. Chaves, garrafas coloridas, porta-retratos, a ração da cachorra suspensa para evitar que seja alcançada pelo gato ainda filhote, uma plantinha de folhagem verde limão, lápis, canetas, cola, um pires para velas e incenso, uma boina que esqueci de pendurar no lugar certo, um calendário expondo um mês que já passou…
Dali a cômoda de madeira marrom avermelhado me olha com um puxador a menos e as gavetas tortas.
Nessa sala onde escolhi ter uma rede no lugar de sofá, gosto de ouvir vinis antigos. É o risco que mais me agrada, o que chia no disco, o que risca a luz na parede e o que me arrisca em mais uma video-chamada.
Palhaça Bisnaga