Passamos na frente do quarto. Lá dentro, uma senhorinha nos seus muitos-e-tantos anos, ligada aos aparelhos, olhos fechados e boca aberta, deitada de barriga para cima em seu leito. Parecia tão frágil. Acenamos à acompanhante, “já voltamos”, e seguimos. Alguns minutos e retornamos. Os olhos da senhora agora abertos, a boca fechada. Acordara, se movia pouco e com muitas limitações. Sinalizamos da porta à acompanhante, “voltamos!”, que anunciou nossa entrada. Entramos. Com passos silenciosos e movimentos suaves para não perturbar a calmaria do quarto. No escuro, meus olhos se encontraram com os da senhora, e ela, com esforço, sorriu. Murmurou alguma coisa numa voz que saiu baixinha entre o movimento pesado e atrapalhado dos lábios. Cheguei pertinho e, com todo cuidado do mundo, disse:
– A gente veio visitar a senhora.
No que ela, com esforço, responde:
– “Senhora” tá no céu.
Bruno Lops / Lourdes