Não faz muito tempo, convivi de perto com uma situação que sempre me causou uma angústia enorme: a morte de alguém querido. Felizmente, ninguém da minha família teve problemas mais sérios de saúde, a não ser meu avô paterno, que faleceu quando eu ainda era muito nova para elaborar qualquer perda. Mas recentemente o estado de saúde do avô de uma pessoa querida para mim foi piorando. Aos 92 anos, ele tinha enfisema pulmonar e já tinha sido internado diversas vezes, mas nessa última já estava na UTI há mais de mês.
O amor que sinto pela família dele me fez ter força para ignorar minhas próprias angústias, porque certamente a perda que eu sentia diante aquela situação não foi nada perto da deles. Acompanhei de perto todo o processo de “adeus”, todo o processo ambíguo entre sofrimento e alívio, e talvez meu afeto por toda a família tornou a minha angústia menos desesperadora – e, por outro lado, meu afeto pelo avô me possibilitou entrar tranquilamente na capela, encarar o caixão e até admirar com carinho o leve sorriso em seu rosto.
Acima do temor pela ideia de algo que se finalizava e de alguém que nunca mais voltaria, ficava a lembrança de que aquele foi um homem que viveu, superou dificuldades, passou por uma guerra mundial e enfrentou o nazismo, imigrou para o Brasil com sua família, trabalhou muito para viver e, pelas histórias que sempre ouvi dele e de outros que o rodeavam (que inclusive tiravam um pouco de sarro de sua honestidade quase ingênua), foi um homem bastante íntegro, correto e justo.
Quando vi esse vídeo que posto abaixo, me lembrei exatamente disso: o que importa, e só o que podemos garantir, é o que fazemos por aqui. Esse menino, Shaun Wilson-Miller, tinha 17 anos faleceu nesse sábado, dia 26 de maio. Ele tinha um problema cardíaco crônico, e seu organismo rejeitou dois corações transplantados. Depois da segunda operação, os médicos informaram que ele não teria mais muitos dias de vida. Sabendo disso, e bastante emocionado, ele gravou um vídeo de despedida em que diz ter sido uma jornada incrível, sem arrependimentos. “Viva a vida ao máximo, porque nunca sabemos o que virá pela frente”, diz, com uma força descomunal para sua idade e condição.
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Sobre “o que virá pela frente”, há diferentes crenças, mas ninguém pode ter certeza sobre o que vai ser: se vamos reencarnar, se viramos espírito, se vamos para o céu ou se simplesmente viramos matériaem decomposição. Pessoalmente, saber disso não me tranqüiliza, mas quem sabe nosso maior desafio nesse mundo seja justamente lidar com a única certeza que temos: a da morte e de um possível adeus. A morte é, contraditoriamente, a força que nos faz viver. Como preencher esse vazio com coisas bonitas durante a vida, para que ao final de tudo a gente possa ter a serenidade de dizer que cada segundo valeu a pena?
Aline Baroni Ops, é Aline Baroni mesmo (sem rasura ou codinomes) é assessora de imprensa da Trupe e acha que dizer adeus é a tarefa mais difícil que temos – e por isso mesmo talvez nunca saibamos como fazer isso bem