entro no hospital
é a Camila que está doente
o hospital é grande, imenso
é branco, imenso
e a noite é imensa também
a enfermeira, que talvez não fosse tão grosseira, era grosseira
e o médico, então, quinze vezes mais
(esse era grosseiro mesmo)
será regalia ser atendido bem, com alguma simpatia?
e olha quem está falando… justo eu que estava com um humor péssimo… continuava colecionando defeitos!
falta limpeza, o banheiro não tem tranca, o soro tá estranho…!
e com tudo isso, quieta, quase imóvel na cadeira, sofro as dores do mundo…
quando a gente tá mal, a gente tá mal
começa chorando por uma coisa e termina chorando por outra
… são as dores do mundo …
… encolhida
preciso me acalmar comigo mesma,
porque sou só eu mesma
o negócio é comigo
…
e comigo, a menina que mora dentro – a criança
e comigo – Carmela, me imagino
…
a Carmela – palhaça – entra delicadamente, pede licença
pega um pedaço de papel toalha
mede, ajeita, faz gestos
diz que é prá secar batatas fritas
que não dá prá deixar assim – assado… porque são fritas!
e tem que ficar sequinha e crocante
ela com o papel
eu com os olhos na minha imaginação
converso comigo mesma Camila – Carmela
e a folha branca de papel toalha
e me distraio olhando prá uma e prá outra de mim mesma…
com os mesmos e tão diferentes óleos
… o meu é de milho, diz Camila
… o meu de girassol – diz Carmela
ela – eu ainda pega um pedaço de algodão, fala que é algodão doce
prá comer de sobremesa
e pela conversa a fora – a dentro, se vai
levando algo de mim
e deixando o gosto das batatas fritas sequinhas e crocantes,
com cheiro de casa
– – –
ps.
tem um des_loucamento lado esquerdo da linha de fuga que sei lá quanto passa pela lateral do corpo… a possibilidade de brincar 🙂
é sobre olhar diferente?
é sobre acompanhar?
é sobre dar a mão e ficar junto?
esse tanto de loucura saudável que às vezes tá prá lá de Bagdá…
e às vezes está bem perto
Camila Jorge / Carmela