Dois apertos de mão, três giradas de maçaneta, sete toques acidentais na parede, um cutucão no ombro da outra palhaça, um “segura aqui um pouquinho, por favor?”, cinco fotos em grupo (das quais duas foram selfies, por isso um celular) e dois botões de elevador… em 30 segundos de fricção contínua tudo evapora, entre uma porta e outra, e no caminho opa encostei no copo pra tomar água e o Jorge da segurança me cumprimentou, logo ali a enfermeira aperta a mão pra me dizer “quanta veia boa de furar” e um casal de idosos me segura com carinho e diz que meu trabalho é lindo. Mais história inscrita na pele que evapora com álcool gel mas que agora é tarde demais, já ta na memória e não vai apagar ou talvez vá porque são tantos encontros e Ah! você lembra de mim? Sim, eu lembro, lá do… Do carrinho, lembra? Ah, agora sim, que tava ali no… 116, lembra? Sim, com certeza, menina, como está? Estou melhor, minha mãezinha ainda está aqui, já tá mais fortinha só que ainda não pode sair… Poxa, manda um beijo pra ela, dizem que beijo deixa mais forte, pode até ser de longe, e pega essa florzinha que vou regar aqui… Mas moço, isso é álcool! É que ela é flex, Ai, só vocês mesmo, Pronto! Então ta, obrigada, Ta bom, Ta, Ta então, Ta, tchau, Um beijo – distante – e até mais, melhoras! Depois de friccionar a florzinha por 30 segundos entrego a ela e me despeço já virando outro corredor enquanto ela dá risada e enche um copo d’água. Ando um pouco, abrimos uma porta, não encostamos em nada, cantamos, todas e todos do quarto, que bonito que foi, né? Foi sim, precisa mesmo passar álcool? Sim… a porta e tals, prevenção é necessária, né, Então tá, Mas vamos rápido que tem muito quarto e Ops, não era álcool era sabão, me espera lavar a mão? Sim, enquanto você lava, viu que bonitinha a senhorinha que veio falar da mãe? Vi sim, que quarto ela tava? No 106, acho, E o que a gente fez lá? Acho que cantamos, Ah sim, que bonito foi, né? Sim e ela melhorou? Acho que ta melhorando. Pronto, terminei, passamos álcool e abrimos mais uma porta, duas selfies (dessa vez dois celulares, uma selfie pra cada), um botão de controle remoto porque ninguém sabia como mutar a TV, três passarinhos imaginários que coincidentemente passavam por ali, uma fricçãozinha extra com álcool e uma canção sobre ovos ou acho que foi uma piada sobre galinhas, talvez, mas foi bonito, né?
Bruno Lops/Lourdes
2019